28 fevereiro 2009

O SENHOR LHE DISSE: «AMALDIÇOA A DAVID....»

Depois do «presente envenenado», David apanha pedras (ver 2 Samuel 16:5-14). Poder-se-ia considerar a questão de qual destas duas «ofertas» é pior.
O atirador das pedras, Simei, afirma que Deus está a dar a David a paga do sangue da casa de Saúl que derramou. Com alguma justiça Abisai, amigo do rei, diz que é um «cão morto» e que a melhor solução será tirar-lhe a cabeça. Ao lermos isto tendemos a concordar com Abisai.
Uma coisa está certa: não é verdade que Deus esteja a usar Absalão para que o sangue da casa de Saúl seja vingado. Foi Deus que outrora dirigiu David, por diversos métodos, alguns deles muito pacíficos, a atingir essa vitória. Então, será que David agora está a ser vítima de um falso sentimento de culpa? Qualquer «conselheiro espiritual» bem-intencionado nos nossos dias tentaria livrar David desta ideia de que é Deus que está a falar por meio de Simei. Tentaria que ele ganhasse um sentido de proporção e auto-estima e que se livrasse da doutrina de que pode ser Deus que manda e usa as pessoas que são cruéis e injustas.
Mas aqui convém voltar-mos ao conceito bíblico da soberania de Deus. José, por exemplo, disse aos seus irmãos que não foram eles que o mandaram para o Egipto senão Deus (Gén. 45:8). Quando David depois peca, fazendo um censo do povo, um dos textos diz que foi Deus que lhe pôs a ideia na cabeça (2 Samuel 24:1), aparentemente contradizendo a versão de 1 Crónicas 21:1 que diz que foi Satanás. Amós depois diz: «Sucederá qualquer mal à cidade, e o Senhor não o terá feito?» (Amós 3:6). Satanás age para confundir e destruir. Deus, operando nos mesmos actos, age para testar, castigar ou purificar: as Suas intenções estando sempre de acordo com o Seu carácter justo e bom. Vejamos novamente Romanos 8:28!
Mesmo quando as pedras e os insultos de algum «Simei» blasfemo estão a cair sobre nós!
E o mesmo Deus que soberanamente dirige estas circunstâncias é Quem, pela Sua graça, pode olhar para a nossa miséria e pagar com bem a maldição que, em alguns momentos, deixa cair sobre nós.

21 fevereiro 2009

2 jumentos... 200 pães... 100 cachos de passas... 100 frutas de verão ... 1 odre de vinho.

2 Samuel 16:1-4.

Quem está a fugir, e numa viagem bem árdua que passa por cima de um monte, pode achar que um presente deste tipo vem mesmo a propósito!

Mas há presentes e presentes. Vieram-me à mente quatro tipos de presentes, no mínimo, e a mensagem que cada um pretende transmitir. Todos eles são símbolos. Em escala descendente, as suas mensagens são assim:
Presente tipo (1) diz: «Eu gosto de ti».
(2) diz: «Eu queria conhecer-te melhor».
(3) diz: «Eu quero que também me dês alguma coisa».
(4) diz: «Eu quero pôr-te do meu lado numa disputa em que estou envolvido».

Vivemos numa cultura em que é bem conhecido o fenómeno da corrupção. O presente (3) e o (4) incluem-se nesta categoria. Provérbios 17:23 diz: «O ímpio tira o presente do seio, para perverter as veredas da justiça».
Quando Ziba, o servo de Mefiboseth (filho adoptivo de David) aparece, perto do cume do Monte das Oliveiras, com essas iguarias todas para o rei e os seus acompanhantes, o momento é muitíssimo bem escolhido. Mas..... Ziba também faz queixa do seu senhor e atribui-lhe falsamente a intenção de ter ficado em Jerusalém para vir a ser rei. Estamos claramente no terreno do (3) e do (4)! Trata-se mesmo de um «presente envenenado».

E David exausto, e com o discernimento e capacidade crítica muito reduzidos, deixa-se enganar.

No ministério pastoral, já recebemos «presentes» que, pelo menos avaliados a posteriori, parecem ter tido intenções do tipo (3) e (4). Isso podemos nem sempre conseguir evitar... podemos vir a perceber a verdadeira intenção só depois. Mas, se percebemos na altura, devemos recusar-nos a aceitar.

O mais importante que temos que cuidar é a análise dos nossos motivos em dar prendas aos outros - e mantermo-nos sempre claramente dentro dos parámetros do (1) ou do (2).

17 fevereiro 2009

Ainda sobre o «se»....

Só me lembrei depois de ter escrito ontem que o «se» nesta passagem de 2 Samuel, que expressa a confiança e não a dúvida, tem um paralelo importante no Novo Testamento:
«Se Deus é por nós, quem será contra nós?» (Romanos 8:31)!

16 fevereiro 2009

Se......

Se.... (2 Samuel 15:25).

O rei e o povo estão de fugida de Jerusalém e passam o ribeiro do Cedron. A seguir, descalços e com a cabeça coberta, sobem o monte das Oliveiras a chorar amargamente. Tudo parece indicar que Absalão ganhou.
Séculos mais tarde o descendente de David, Jesus o Messias, iria parar no mesmo monte e desatar a chorar sobre esta mesma cidade que, no Seu tempo, O rejeitou (ver Lucas 3:28-29).
Abalados pelos problemas do nosso tempo – a crise financeira, a crise da incompreensão ou da rejeição – há líderes e membros experientes das comunidades da fé que estão hoje a perder tudo o que aparentemente tinham de seguro. Sentem-se, naturalmente, perto de David e Jesus, na encosta desse monte.
Mas.... há neste versículo uma partícula: «se».... Numa cultura como a portuguesa, tingida pelo fatalismo, o «se» muitas vezes tem a ver com o especulativo e altamente improvável (se a crise financeira mundial se resolver..... se uma tia rica morrer e me deixar uma boa herança.... se ganhar a lotaria....). Equivale quase ao desespero.
Mas não é assim com o «se» de David. «Se....achar graça nos olhos do Senhor». Dizer «se» pode ser apenas a indicação de que estamos a abandonar definitivamente toda a esperança que tínhamos em nós próprios e estamos, ao mesmo tempo, a afirmar a dependência real do Senhor que já no passado Se manifestou claramente nas nossas vidas. Podemos estar de facto a afirmar que estamos inseridos numa história escrita por Aquele que tem a última palavra sobre todos os acontecimentos. É Ele que dita todos os passos que necessários para lá chegarmos, passando por muitos caminhos que podem parecer ser de derrota total.
David naturalmente se sente cansado e frustrado. Sente o peso e os traumas incuráveis de erros passados .. traumas estes que subsistem apesar do facto de ter sido perdoado. Mas manda a arca a Jerusalém, porque acredita que Deus o vai fazer voltar até lá. Depois, em bastante menos tempo do que pareceria razoável ou mesmo possível, é exactamente isso que Deus faz.
Quando o «se» significa que recordamos o que Deus fez em nós e por nós pela Sua graça, e voltamos a firmar a nossa confiança de que Ele não muda, esta partícula, em vez de expressar esperanças incertas ou utópicas, pode introduzir os mais espantosos relatos de vitória!

Obrigado, Nuno Calaim, por teres escrito de Moçambique a dar um estímulo e uma palavra de ânimo. Vou tentar corresponder!

06 fevereiro 2009

Uma festa de tosquiadores..... e a teoria da «tábula rasa».

Já em 27 Janeiro falei de Absalão. E agora (4 Fev.) retomei o assunto e disse que ia seguir. Acho que interessa voltar um pouco ao princípio.. e estender isto durante algum tempo.
O conhecido conselheiro familiar, James Dobson, no seu livro «Solid Answers», ed. Tyndale, 1997, critica a ideia de que a personalidade humana é fruto do que a sociedade e o ambiente escrevem na «tábula rasa» que é cada bebé que chega ao mundo. A ideia vem de Locke e Rousseau.
Nas minhas primeiras leituras acerca de Absalão, era bastante influenciado por esta ideia. Tendia a culpar os efeitos dos erros de David, o pai por tudo aquilo que o filho revoltoso faz de errado. A revolta de Absalão não surge do facto de David não ter conseguido disciplinar Amnon, o meio-irmão que violou e depois rejeitou a sua irmã Tamar (ler 2 Samuel 13)? E, dando um passo mais para trás, Amnon não esteve apenas a copiar o modelo que David dera quando adulterara com Batseba?
Se fizermos uma leitura deste tipo, podemos chegar ao ponto de querer admirar Absalão por conseguir fazer aquilo que David não tem coragem para fazer – ter uma «mão firme», fazendo Amnon sofrer por aquilo que este fez sofrer à sua irmã. E, se acharmos que «os fins justificam os meios», podemos querer perdoar as artimanhas de Absalão (o facto de dar esta punição na altura de uma festa de tosquia, em que prepara tudo para Amnon ser morto num momento de embriaguez).
Mas, depois de chegar a este ponto, percebi que a própria Bíblia não pretende que se leia o relato de Absalão só desta maneira. É verdade que mostra, de uma forma brilhante, a relação que existe entre os pecados dos pais e os dos filhos. Mas não justifica os erros dos filhos desta forma.
Acredito firmemente que a doutrina bíblica e histórica do «pecado original» dá uma explicação mais satisfatória do comportamento humano do que a teoria da «tábula rasa».
Se creio que sou «tábula rasa», posso culpar os meus pais ou a sociedade por tudo o que faço de errado. Se creio no pecado original, sou obrigado a dizer que sou eu o culpado. David depois diz (Salmos 51:3-4) que é responsável por aquilo que fez e, sem considerar que assim entra em contradicção, que nasceu em pecado. Toda a evidência é que Absalão, por contraste com o pai, nunca chega à lucidez e ao arrependimento a que seu pai chegou.
Absalão não é só, nem principalmente, o que David ou a sociedade faz dele. É, e no último dia será, julgado pelas suas próprias atitudes e actos, que nascem dos recantos escuros do seu próprio coração.

04 fevereiro 2009

«PROVAVELMENTE...... não tens quem te ouça da parte do rei....»

Os cartazes afixados em Janeiro nos autocarros de Londres evocam as provocações de Absalão. Só que o «provavelmente» é um acrescento meu às palavras do filho-revolucionário do rei David (ver 2 Samuel 15:3).

A Associação Humanista da Grã Bretanha – com o apoio do cientista Richard Dawkins – parte da base de que Deus não existe («provavelmente!») para uma «generosa» autorização às pessoas para elas desfrutarem da vida.

Como a campanha, bem elaborada, veio a seguir ao eclodir da crise financeira mundial, «provavelmente» esta Associação devia ter acrescentado à sua autorização às pessoas uma condição: «se fizeres parte da reduzidíssima percentagem da população mundial que tem meios financeiros para o fazer». E depois teria ainda que acrescentar: «Provavelmente daqui a um ano ainda terás os meios suficientes para poderes desfrutar da vida...»! (Teremos?).

O «timing» da campanha não foi nada bom... para o que a Associação Humanista pretendia. Para o que Deus pretendia, através dessa campanha ousada e irreverente, «provavelmente» terá sido um «timing» excelente.

Dentro de dias esperamos voltar com algo mais sobre Absalão....