18 dezembro 2010

Marcar limites..... como e quando?

Os três jovens deixaram-se convencer a mudar os nomes, a estudar na Universidade da Babilónia – língua e cultura – e a viverem no palácio (ver Daniel 1 e postagem anterior).
O problema é que o astuto Rei Nabucodonosor, muito dado à projecção da sua própia imagem, deve ter pensado que assim já os conquistou para serem fiéis cidadãos babilónios em todos os sentidos da palavra. E que grande apoio lhe iriam dar agora! Sadrach, Mesach e Abednego teriam uma dívida de gratidão para ele, que se iria manifestar da forma mais pura em alturas em que a pessoa de Nabucodonosor estivesse a ser homenageado publicamente.
Mas em algo era importante os jovens saberem marcar limites. Ao participarem nos banquetes do palácio os jovens resolveram tomar posição no sentido de só comerem legumes e não beberem o vinho do rei.
Costuma-se comentar aqui que o problema é a lei dos judeus. Ao comerem carne os jovens estariam necessariamente a comer alguns alimentos considerados imundos pelos judeus. A única maneira de não fazer isto seria evitarem todas as carnes.
Pessoalmente duvido que esta seja a explicação mais correcta. Pode explicar em parte a sua recusa, mas não a explica completamente. Duvido que, estando na Babilónia durante setenta anos, muitas vezes ao serviço de casas particulares, os exilados judaicos tenham achado que era possível manter essa posição escrupulosa relativamente à lei das comidas puras e imundas. Parece-me mais provável que o facto de eles muitas vezes terem tido de facto de comer comida imunda fazia parte daquilo que sentiam como castigo de Deus.
E o vinho? Porque é que os jovens se abstiveram do álcool? Acredito que há crentes evangélicos (desculpem a brincadeira!) que afirmem que a abstenção total do vinho é questão de obediência às leis da Bíblia! Mas dificilmente justificam isto com algum texto concreto!
Creio que a explicação tem mais a ver com um limite de envolvimento na cultura das festas babilónicas que o próprio Deus fez sentir que deviam marcar. Sabemos que quem deseja um favor muitas vezes «prepara o terreno» com um convite agradável. Uma boa refeição – conversa amena – vinho para diminuir a capacidade crítica do convidado....! Recentemente assisti (involuntariamente!) a uma conversa nas Finanças em que uma funcionária mudou de repente na atitude que estava a tomar, perante um pedido que não deve ter estado bem dentro das normas, ao receber um convite para um jantar!
Quais não seriam as concessões em matéria de fé e ética que o rei da Babilónia não iria conseguir neste ambiente relaxado de vinho e de «boa disposição»?
Quantas não são as concessões que nós facilmente somos levados a fazer em ambientes de convívio agradável?
Não foi fácil para o chefe dos eunucos do palácio dar cobertura a uma situação em que ele próprio corria o risco de perder a sua vida. Mas Deus interveio para que este não fosse posto em causa, mantendo o aspecto salutar dos jovens ao longo de dez dias. Deus também intervem soberanamente para ajudar os crentes que desejam ser coerentes a marcarem os limites necessários.
O problema é que muitos de nós sabemos no fundo que, na sociedade corrupta em que vivemos, já ultrapassámos os limites. Mas, se não os ultrapassámos, precisamos de ajuda para sabermos onde é que os devemos marcar (não será só uma questão de leis). Se já os ultrapássamos pode ser que Deus nos dê a Sua graça para ainda voltarmos atrás e minimizar as consequências negativas.
Pode ser que, como aconteceu na Babilónia do tempo de Daniel, algum dia os próprios valores do reino secular em que vivemos tremam e tenham que ser modificados ….. só porque uma pequena mão-cheia de crentes convictos soube manter posição, no momento em que isto estava a ser preciso.

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